domingo, 18 de fevereiro de 2018

O vilão que conquistou o Paraíso

Queda dos anjos rebeldes. Pieter Bruegel o Velho (1525-1569), Royal Museums of Fine Arts, Bruxelas
Queda dos anjos rebeldes. Pieter Bruegel o Velho (1525-1569),
Royal Museums of Fine Arts, Bruxelas
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Um vilão morreu, e com ele aconteceu o que nunca havia acontecido antes e seguramente jamais voltará a acontecer: ninguém ficou sabendo da sua morte, nem no Céu nem no inferno.

Como pôde acontecer isso, não sei.

Sei com segurança é que, no momento em que a alma dele se separou do corpo, não havia por ali nem anjos nem diabos para recolhê-la, e com isso o pobre homem ficou sem guia.

E também não havia ninguém com atenção posta nele, para proibi-lo de fazer o que bem entendesse com a sua alma, de modo que resolveu por sua própria conta e risco tomar o caminho do paraíso.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

A lenda de Santo Elígio

Deus Pai e Deus Filho, Sevilha, Espanha
Deus Pai e Deus Filho, Sevilha, Espanha
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Um dia estava o Senhor Deus todo pensativo no Céu. Tanto que Jesus lhe perguntou:
— Que é que tendes, meu Pai?
Respondeu o Senhor:
— Olha lá no fundo.
— Onde?
— Lá em baixo: Vês naquela vila, numa das últimas casas, aquela grande e bela oficina de ferrador?
— Vejo.
— Pois bem. Lá está uma criatura que eu quisera salvar. Chama-se Elígio. É sem dúvida um homem bom, obediente às minhas leis, caridoso com os pobres, pronto para servir a todos. Da manhã até à meia-noite ele está sempre aplicado ao trabalho, sem que jamais escape de sua boca uma blasfêmia ou uma palavra suja. Parece-me mesmo digno de tornar-se um grande santo.
Jesus perguntou:
— E que é que lho impede?
— O seu orgulho. É um artífice de primeiríssima ordem, mas está convencido de que não há no mundo quem seja capaz de superá-lo. E tu sabes que presunção significa perdição.
— Meu Pai, se consentis que eu desça à terra, tentarei a conversão dele.
— Pois vai, meu filho.